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A ESPERANÇA
Esperaça e Motivação na Sobrevivência
     
 

A ESPERANÇA
Esta história apoia a teoria que a psicologia positiva tem uma grande importância na Esperança e o Optimismo.

 
       
 

Dália ventura, BBC News mundo - 25 Juno 2022

A ciência costuma ser desconcertante — às vezes, por razões menos evidentes.

Um exemplo é a famosa afirmação de que, se você colocar uma rã na água A ferver, ela vai saltar imediatamente, mas, ao se a por na água morna e aumentar a temperatura gradualmente, ela não vai perceber do perigo e será cozida até a morte.

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Embora pareça o resultado de uma experiência, de facto ela nunca aconteceu. Na verdade, especialistas afirmam que, assim que a temperatura a incomodasse, a rã colocada na água morna saltaria, mas não a outra, que morreria como qualquer outra criatura que caísse na água a ferver.

Mas há outro caso de estudo famoso que é igualmente perturbador. Ratos que foram colocados num cilindros de água e observados enquanto se afogavam. Este estudo, sim, foi realizado — pelo biólogo, psicobiólogo e geneticista americano Curt Richter.

E, para quem pergunta por quê? Quando ouve falar no experimento, antes de se preocupar com o resultado, o artigo de Richter publicado em 1957 pela revista Psychosomatic Medicine começa exactamente por responder a essa questão: "Estávamos a estudar diferenças de reacção ao stress entre ratos selvagens e domesticados".

Morte súbita

Richter publicou o seu artigo porque tinha encontrado nos ratos um fenómeno similar ao estudado por Walter Cannon, um dos fisiologistas mais importantes do século 20.

No seu estudo publicado em 1942 com o título "Morte vodu", Cannon mencionou vários casos de mortes súbitas, misteriosas e aparentemente psicogénicas, em várias partes do mundo, que ocorriam 24 horas após o indivíduo violar alguma norma social ou religiosa.

Depois de analisar minuciosamente essas evidências, Cannon ficou convencido de que esse fenómeno era real e perguntou-se: "Como um estado de medo sinistro e persistente pode acabar com a vida de um ser humano?".

Richter explicou que a conclusão de Cannon foi de que a morte era consequência do estado de choque produzido pela liberação contínua de adrenalina. E acrescentou que, se isso for verdade, pode-se esperar que, nessas circunstâncias, a respiração dos indivíduos ficaria agitada e seu coração bateria cada vez mais rápido.

Isso "os conduziria gradualmente a um estado de contracção constante e, em última instância, à morte em sístole". Mas o estudo de Richter com ratos demonstrou exactamente o contrário.

Nadar ou afogar-se

No seu laboratório na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos, Richter pôs ratos domesticados (ou seja, que nasceram, cresceram e iriam morrer em laboratório) nuns recipientes de vidro de onde não poderiam escapar. Ele queria observar durante quanto tempo os ratos sobreviveriam a nadar na água com diferentes temperaturas, antes de afogar-se.

Mas havia um problema: "Em todas as temperaturas, um pequeno número de ratos morreu entre cinco e dez minutos depois da imersão, enquanto, em alguns casos, outros aparentemente mais saudáveis nadaram 81 horas".

Era uma variação grande demais para que os resultados fossem significativos. Mas Richter afirmou que "a solução veio duma fonte inesperada: a descoberta do fenómeno da morte súbita".

Ratos desesperados

Richter então alterou a experiencia. Ele começou a cortar os bigodes dos ratos, "possivelmente para destruir seu meio de contacto mais importante com o mundo exterior". E introduziu, além dos ratos domesticados, animais híbridos e outros recém-capturados nas ruas.

Enquanto a maioria dos ratos domesticados nadou entre 40 e 60 horas antes de morrer, os ratos híbridos (cruzamentos entre ratos domesticados e selvagens) "morreram muito antes desse tempo".

Mas o mais surpreendente foi que os ratos selvagens, que costumam ser fortes e excelentes nadadores, afogaram-se entre "1 a 15 minutos depois de sua imersão nos recipientes".

Por quê? Cannon afirmava que as mortes súbitas aconteciam devido à grande quantidade de adrenalina liberada pelo estresse, que acelerava a respiração e os batimentos cardíacos.

Ocorre que os dados colectados por Richter indicavam que "os animais morriam por desaceleração do ritmo cardíaco e não por aceleração". Ou seja, a respiração desacelerava e a temperatura do corpo diminuía, até que o coração deixava de bater.

Essa informação era valiosa, mas não foi ela que fez a experiência ficar tão famoso. Havia outro ponto que não podia ser ignorado.

Ratos sem esperança

"O que mata esses ratos?" Era a pergunta de Richter. "Por que os ratos selvagens, ferozes e agressivos morrem rapidamente e isso não acontece com a maioria dos ratos mansos e domesticados, quando submetidos às mesmas condições?"

De facto, ele observou que alguns ratos selvagens morriam até mesmo antes de entrarem na água, ainda nas mãos dos pesquisadores.

Richter identificou dois factores importantes:

> A restrição utilizada para reter os ratos selvagens, eliminando repentinamente qualquer esperança de fuga;
> O confinamento no frasco de vidro, que também eliminava qualquer possibilidade de fuga e, ao mesmo tempo, ameaçava-os com o afogamento imediato.

Em vez de disparar a reacção de luta ou fuga, Richter estava a observar a falta de esperança dos ratos.

"Estejam eles presos nas mãos (dos pesquisadores) ou confinados no recipiente para nadar, os ratos encontram-se numa situação contra a qual não têm defesa. Esta reacção de desespero é exibida por alguns ratos selvagens muito pouco tempo depois de terem sido agarrados com a mão e impedidos de mover-se; parece que, literalmente, eles 'se rendem'."

Por outro lado, se o instinto de sobrevivência fosse disparado em todos os casos, por quê que os ratos domesticados pareciam convencidos de que, se continuassem a nadar, poderiam acabar por se salvar? Poderiam os ratos ter "convicções" diferentes e até esperança?

Respiro

Richter voltou a alterar a experiência. Ele pegou ratos similares e os colocou no recipiente. Mas, pouco antes que morressem, ele retirava os, segurava os um momento, soltava e voltava a colocá-los na água em seguida.

"Assim", escreveu ele, "os ratos aprendem rapidamente que a situação, na verdade, não é desesperada; a partir daí, eles voltam a ser agressivos, tentam escapar e não dão sinais de dar-se por vencidos."

Esse pequeno intervalo fazia muita diferença. Os ratos que experimentavam um breve respiro nadavam muito mais. Sabendo que a situação não estava perdida, que não estavam condenados e que uma mão amiga poderia vir salvá-los, eles lutavam para viver.

"Eliminando o desespero, os ratos não morrem", concluiu Richter.

Morte por convicção

A intenção de Richter era contribuir para a pesquisa da chamada morte vodu, que, segundo ele, não acontecia apenas nas "culturas primitivas", como tinha concluído Cannon.

"Durante a guerra, foi relatado um número considerável de mortes inexplicáveis nos soldados das forças armadas deste país (Estados Unidos). Esses homens morreram com aparente boa saúde. Na autópsia, nenhuma patologia foi observada", segundo ele.

"Neste ponto, também é interessante que, pelo que diz o R. S. Fisher, médico forense na cidade de Baltimore, diversas pessoas morrem todos os anos depois de tomar pequenas doses de veneno, definitivamente subletais, ou de se infligir pequenas feridas não letais", prossegue Richter, "eles aparentemente morrem por estarem convictos da sua morte".

O experimento de Richter foi repetido milhares de vezes em laboratórios farmacêuticos para comprovar componentes antidepressivos, depois que em 1977, o pesquisador Roger Porsolt descobriu que os ratos que recebiam esses componentes lutavam durante mais tempo.

Graças às acções da organização protectora dos direitos dos animais PETA, a prática de colocar os ratos para nadar nos laboratórios foi consideravelmente reduzida. Mas as lições dessa experiência cruel permanecem vivas na Psicologia.

Como a falsa experiência com as rãs, o teste dos ratos ficou famoso além do seu ambiente natural de estudo, assim como a ideia de que A ESPERANÇA dá a essas criaturas a força necessária para lutar pelas suas vidas no meio duma situação desesperada.

Richter induziu estados de necessidade em animais experimentais, privando-os de substâncias essenciais à sobrevivência, ou manipulando os níveis hormonais, e mostrou que esses estados de necessidade geram apetites e comportamentos que se ajustam precisamente à necessidade do animal, mesmo que o animal nunca tenha experimentado a necessidade; demonstrando a programação genética do comportamento. Ele também desencadeou outros comportamentos pré-programados, como a construção de ninhos, manipulando os níveis hormonais.

Curt Paul Richter
(20 de Fevereiro de 1894 - 21 de Dezembro de 1988) foi um biólogo, psicobiólogo e geneticista que fez importantes contribuições no campo dos ritmos circadianos. Notavelmente, Richter identificou o hipotálamo como um "marca-passo biológico" envolvido no sono e na vigília. Em particular, esta região suspeita por Richter foi posteriormente identificada como o núcleo supraquiasmático.

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